Graças a Deus que o dia havia acabado não agüentava mais ouvir as mesmas palavras de várias vozes diferentes, sempre dizendo ‘fiquei sabendo de você e do Erik, parabéns’ ou se não ‘finalmente, demoraram em!’.
Por mais que o Rik fosse amável, atencioso, romântico, charmoso, lindo, tudo de bom, e estávamos namorando há três dias praticamente e ainda me faltava algo, me sentia vazia de algum modo, e toda vez que procurava o porquê desse vazio, só chegava a um nome, Kal, e com esse nome sempre vinham as mesmas perguntas em minha mente, porque sinto falta dele? Porque me sinto tão vazia longe dele? Por quê? E nenhuma resposta me vem a mente, só uma súbita saudade.
Queria conversar com ele mais, queria ver seu rosto mais uma vez.
Mas agora só poderia esperar ele ir a escola, só isso.
- Você está aí Kris? – perguntou meu pai batendo na porta do meu quarto.
Levantei-me da cama.
- Sim pai, to aqui, o que você quer?
Abri a porta.
- Nada, só passei pra te dar boa noite – ele olhou para dentro do quarto – Ah! Não se esqueça de fechar a janela para dormir em! – ele me deu um beijo na bochecha e saiu.
Fechei a porta e fui em direção a janela – meu pai nunca deixava a eu dormir com a janela aberta desde que um morcego invadiu meu quarto à noite e eu dei um ataque com a aquele bicho voando na minha cabeça – , quando ia fechando a janela vi algo se mexendo em meio a floresta, como meu quarto ficava no segundo andar não deu para enxergar muito bem o que era ou quem estava lá embaixo, mas parecia ser uma pessoa, pois quando me viu parou subitamente, fiquei olhando aquilo por bastante tempo, tentando ver o que era em meio aquele breu, mas não conseguia, então como num piscar de olhos a sombra sumiu em meio a escuridão; Fechei a janela.
Aquilo não poderia ser um animal, não seria tão racional a ponto de ficar parado me olhando, havia alguém e disso eu tinha certeza, mas quem estaria em meio a floresta a noite perto da minha casa? Esse alguém não estava perdido, senão teria pedido ajuda aqui, mas então quem era? Só poderia ser alguém que conhece bem a área, só alguém que conhece muito bem essa área para andar em meio aquele breu a noite. Amanhã vou observar melhor a floresta á noite, vamos ver se essa pessoa volta amanhã, se voltar eu a pego e veremos quem é.
Embrulhei-me e adormeci.
Acordei de manhã com o barulho estrondoso do portão da garagem e desci para tomar café.
Quando estava acabando a campainha tocou, quem viria a minha casa as dez da manhã? Só poderia ser o Rik, quando abri a porta não consegui acreditar em quem eu via, não acredito que ela estava aqui, não podia ser verdade, era muito surreal, não acredito que a Nikki – minha melhor amiga de Ottawa (todos lá eram um bando de falsos, vagabundos, só ela que prestava em meio a eles), e eu sentia muita saudades dela, ela só havia me ligado umas duas vezes ao longo desses dois anos pra me dar feliz aniversário,alegava ela que a ligação era muito cara e que ela não tinha tempo -, estava aqui na minha frente. - Ai que saudades Kris! – disse ela pulando no meu pescoço.
- Que saudade também, como você me achou? Como seus pais a deixaram vir até aqui? Meu Deus! Como você está diferente – disse me afastando e a olhando dos pés a cabeça, ela estava mais bonita do que nunca, seu cabelo estava negro, cortado até a nuca, um espetado meio bagunçado, seu rosto estava mais claro do que nunca, deixando em contrate seus olhos quase negros de tão pretos; Não pude deixar de perceber que ela trazia com ela uma mala grande e uma mochila.
- Então não vai me convidar pra entrar não?
-Claro! Entra Nik.
-Sua casa nova é linda – disse ela olhando tudo a sua volta.
- Minha antiga casa nova sua sumida.
- Que seja! – ela sorriu e me olhou dos pés a cabeça – Nossa! Kris você ta linda de morrer.
- Igualmente. Mas me diga, porque resolveu vir me visitar agora? – olhei desconfiada pra ela.
Ela entrou e eu fechei a porta.
- Você conhece o meu pai, sabe como ele é super preocupado com meus estudos... Outro dia ele estava olhando na internet uma escola nova pra mim, porque na minha escola acharam um bando de bestas com um tanto de drogas, e ele não me queria deixar lá... Então ele viu que as escolas da Califórnia são super conceituadas, são consideradas as melhores dos Estados Unidos, e alguns meses minha avó morreu, deixando para ele sua casa que fica aqui em Sacramento, e meu irmão trabalha em San Diego, então eu o convenci de me deixar estudar na escola que você estuda.
- Você vai morar sozinha na casa da sua avó? – disse incrédula.
- É. Meu irmão vai vir sempre que der pra ver se está tudo bem, San Diego é aqui perto – ela sorriu.
- E... Como descobriu meu endereço?
- Antes de vir pra cá peguei seu endereço com sua mãe, queria te fazer uma surpresa.
- E que dia você começa a estudar?
- Vou lá hoje fazer a matrícula e amanhã devo começar... - seu celular tocou - Só um minutinho Kris... - ela pegou a celular - é o meu irmão... Alô? Já cheguei sim... - pausa - Ok, eu te espero aqui então... Tchau, beijo - ela desligou o celular e sorriu pra mim - Meu irmão tá vindo me buscar aqui pra mim ir na escola fazer a matrícula.
- Ele já tá chegando?
- Não vai demorar mais umas duas horas... Então, me mostre sua casa!
- Claro, vem!
Enquanto a mostrava a casa contei a ela toda a minha nova vida aqui na Califórnia, e ela me contou tudo que havia acontecido lá em Ottawa desde que fugi de lá - na verdade não havia mudado muita coisa, a única novidade foi que ela namorou o menino mais bonito da escola de lá por quatro meses, até que ele atraiu, e só -, quando estava acabando de mostrá-la a casa a campanhia tocou e fui atende-la.
Era o Rik.
- Kris! Você não tá pronta ainda? - ainda estava com meu pijama e tinha esquecido totalmente do horário.
- É que minha amiga de Ottawa vai se mudar pra cá e veio me visitar, tava conversando aqui com ela e acabei perdendo a hora.
Ele entrou e me deu um selinho, Nik estava atrás de nós dois meio sem graça.
- OK. Então vai se arrumar – ele olhou para Nik – Ei! Prazer, sou Erik mas pode me chamar de Rik – ele sorriu e lhe estendeu a mão.
- Prazer, Nikki – disse ela apertando a mão de Rik.
Nesse momento uma buzina soou lá fora.
- Deve ser meu irmão – disse Nik pegando suas coisas, ela se virou pra mim e me abraçou ternamente – Ai! Eu estava com muitas saudades de você, foi muito bom revê-la – ela me soltou – Até a escola! – ela se virou para a porta e acenou para seu irmão que a estava esperando encostado do lado de fora do carro e depois se virou para o Rik – Foi um prazer conhecê-lo Rik! Vemos-nos na escola – ela se voltou pra mim e deu um sorriso – Tchau – e se foi.
Rik fechou a porta.
- Sua amiga parece ser legal... – ele me olhou – Bom, se você quiser ir a aula, você tem cinco minutos para se arrumar, mas se você não quiser ir você tem mais ou menos umas cinco horas, pra me beijar, me abraçar, me amar e... Beijar-me de novo – ele deu um sorriso de uma orelha a outra.
Pensando bem, não ir a aula hoje era uma boa idéia, estaria o mesmo saco de sempre – todo mundo dando os parabéns e eu duvido que o Kal deva ir hoje a aula, ele deve faltar a semana toda – então ficar aqui tirando uma boa casquinha do Rik não era nenhuma má idéia, parecia-me tentador.
Peguei o colarinho da sua blusa e o puxei com força para perto de mim e beije-o com vontade até ficar sem fôlego.
Recuperei o fôlego.
- Você quer ir à aula Rik? – disse a ele com um tom de sarcasmo.
- Bom... Acho que... Não vai ter muita coisa na aula hoje né?
- É. Ficar aqui pode ser interessante não é mesmo?
- Com toda a certeza – ele disse sarcasticamente.
Pegou-me pela cintura e me puxou para seu peito e me beijou com tanto amor que me coração começou a bater cada vez mais e mais forte, ele me empurrou para o sofá, fazendo com que ele ficasse por cima de mim, ele começou a tirar minha blusa e eu o impedi – nunca havia feito isso – ele se afastou um pouco.
- Desculpe-me, empolguei – disse ele constrangido.
- Não tem que pedir desculpas.
- Estou sendo rápido demais.
- Não o culpo, demorei mais de um ano para dizer que te amo.
Ele me abraçou.
- Eu te amo sabia? – disse ele.
- Uhum...
Ele beijou de novo.
- Acho que nunca vou conhecer uma pessoa mais paciente do que você – disse e o beijei mais uma vez.
Ele sorriu.
- Vem cá – me levantei e fui com ele em direção a escada.
O levei para o meu quarto.
Ele não merecia só o pouco de amor que lhe dava, ele merecia todo o meu amor, eu estava preparada para aquilo, eu o amava não amava? Então não teria problemas. Fazer amor pela primeira vez com o Rik seria a decisão certa, ele me amava e já havia provado isso mais de um milhão de vezes, ele era inteiramente meu e eu era inteiramente dele.
Fechei a porta do quarto.
- Não acho justo depois do tanto que você esperou eu te fazer esperar ainda mais pra te demonstrar todo o amor que sinto por você – tirei sua blusa.
- Você não precisa fazer isso se não quiser Kris...
- Eu quero.
Ele sorriu e me beijou com cuidado me empurrou para a cama e tirou minha roupa, tirei a sua também.
E foi tudo muito fácil e muito bom.
Acordei algumas horas depois, Rik estava dormindo do meu lado.
Já estava começando a anoitecer, olhei o relógio que fica no criado mudo, tomei um susto, já eram 18h30min, o tempo havia passado muito rápido. Acariciei seu rosto e o beijei delicadamente, ele acordou e sorriu.
- Ei... – disse ele ainda sorrindo como um bebê.
- Já tá tarde daqui a pouco meu pai vai chegar – disse baixinho.
- Quantas horas?
- Seis e meia.
- Nossa... Já?
- É.
Ele acariciou meu rosto.
- Meu amor... – ele disse e me beijou a testa.
Eu sorri.
Meu celular tocou me virei e o peguei em cima do criado-mudo.
- Alô?
- Oi Kris é a Kate.Porque não foi a aula hoje? Você não tem idéia do que perdeu. Tô indo pra sua casa daqui uns dez minutos eu tô aí, tenho que te contar pessoalmente o que aconteceu. Até daqui a pouco! - Kate falou tão rápido que estava até difícil entender tudo.
Me virei para o Rik.
- Quem era? - perguntou-me o Rik.
- Era a Kate, falando que está vindo pra cá, porque quer me dizer algo pessoalmente.
-Hum... - ele se aproximou de mim e beijou-me com ternura - tenho que ir se não seu pai e minha mãe me matam - falou com urgência.
- OK - ele me deu um selinho.
Ele se levantou e começou a tampar aqueles bíceps lindos com sua blusa; Me levantei e procurei uma roupa pra mim também no guarda-roupas e vesti.
Rik já havia vestido suas roupas e vinha em minha direção, ele colocou suas mãos em meu rosto e beijou minha testa.
- Tchau, meu amor! - ele falou e sorriu.
- Tchau - sorri também e lhe dei um selinho.
Ele sorriu e desceu, depois de alguns segundos escutei o barulho abafado da porta se fechando.
Uau! Eu tinha feito isso? Não acredito; Isso deve um sonho, daqui a pouco vou acordar e rir de mim mesma... Aimeudeus! Isso não pode ser um sonho, eu fiz isso mesmo.
A campainha tocou.
Desci e fui atendê-la.
- Kris! Você não vai acreditar no que aconteceu! - disse a Kate já entrando.
- O que aconteceu Kate?! - disse curiosa.
- Aconteceram duas coisas legais, uma muito legal e outra um pouco legal, qual quer saber primeiro?
- A pouco legal.
- Aquele garoto que você estava esperando a semana toda que você disse que era seu amigo apareceu lá hoje, e caramba! Ele é lindo! Não tinha me dito que ele era tão lindo e rico! Meu deus! Ele é um gato!
- Mas ele não é rico! - e não era mesmo, pelo que tinha me dito o pai dele não o deixava tocar no dinheiro que ele herdou.
- Se ele é rico eu não sei, mas que ele chegou à escola com um carro que estava parecendo novinho, importado, preto e reluzente, ele chegou sim!
- Estranho... - ela me interrompeu.
- Amanhã você tem que me apresentar ele!
- OK. Você sabe que aulas ele pegou?
- Ah! É da sua sala de história e também de literatura, e é da minha sala de matemática.
- E você teve matemática hoje?
- Interresada em... Tive sim.
- E? O que achou dele? - disse me sentando no sofá, ela sentou também.
- Ele é estranho fica parece anti-social, fica quieto o tempo todo, a menina que senta com ele na aula ficou tentando puxar assunto, mas ele nem deu idéia só respondia 'sim' 'não' 'um pouco' 'às vezes', não queria papo; No recreio ficou sentado o tempo todo embaixo de uma árvore olhando pra todo o lado parecendo que estava procurando alguém e fingindo que estava lendo um livro... Ele parecia um pouco nervoso, entediado, sei lá! Não o vi com uma cara feliz em nenhum momento.
Será que ele estava me procurando? Poderia estar, seria muito bom. Mas, faltar a aula tinha valido a pena de qualquer modo.
- E a coisa muito legal? - perguntei curiosa.
- Ah! Essa você vai adorar...
- Fala! - disse já sem paciência.
- Hoje tinha uma garota que eu nunca vi com um homem, o homem foi pra secretaria e ele foi para o pátio ficou lá andando de um lado pro outro...
- Como era ela? - poderia ser a Nik.
- Tinha cabelo preto e curto quase na nuca, e era branca pra caramba! Porque?
- Ela é uma grande amiga minha lá do Canadá, ela se mudou pra cá e disse que iria passar lá na escola pra fazer a matrícula junto com o irmão dela.
- Ham... Só podia ser sua amiga mesmo!
- Por quê? O que ela fez?
- Ela estava no pátio numa boa e a Rose passou e deu um esbarrão nela que ela quase caiu no chão de tão forte que foi aí essa menina virou pra ela e falou 'Você não enxerga não!', aí a Rose fazendo o seu papel de vadia que fingi ser boa, virou pra ela e falou 'Eu não enxergo insetos como você amor', a menina virou pra ela com uma cara que eu pensei que ela fosse estrangular a Rose, eu ia adorar presenciar isso, mas ela não o fez, a menina virou pra Rose e falou 'O único inseto que eu tô vendo aqui é você meu bem, não me provoque garota você não sabe com quem tá mexendo', aí a Rose falou 'Meu bem, eu sei com quem eu tô mexendo sim... Uma suburbana idiota!', foi aí que aconteceu a coisa mais linda do dia, a menina vôo em cima da Rose, depois disso só ouvi barulho de tapa e soco, e todo mundo gritando, depois a Rose saindo com a boca sangrando e a menina com cara de nervosa com a cara vermelha sendo levadas pelo diretor e todo mundo indo atrás, tão dizendo que a Rose levou até uma suspensão porque começou a briga, foi lindo, você ia adorar tá lá! - terminou ela rindo.
- É. Acho que iria sim – falei rindo.
- Então... O que você fez de bom aqui?
- Se eu contar você não acreditar mesmo.
- Se você não contar você nunca vai saber se iria ou não acreditar! – ela falou levantando a sombra celha.
- Eu... Fiquei aqui transando com o Erik.
- O quê?! Tá eu vou fingir que não escutei você dizendo ‘transando com o Erik’, OK?
Sorri.
- Sabia que você não iria acreditar. Viu!
- Você perdeu sua virgindade? – ela disse com uma cara angustiada.
Respirei fundo.
- É.